Último texto da série “O que a ginástica reserva para”. Dessa vez, o texto não foi escrito por Marina Aleixo. Não sei se todos sabem, mas nossa querídissima colaboradora mora na Austrália e acaba por não acompanhar tanto a ginástica juvenil do Brasil. Entretanto, desde sempre troco informações “juvenis” com o leitor/amigo Bernardo Abdo, e o convidei (com o aval da Marina) para escrever esse último texto, que ficou excelente! Queria parabenizá-lo pela contribuição, dizer que ela foi bem-vinda e que convites novos serão feitos! Rs. Aproveitem o texto e boa leitura! E boa sorte para o Brasil em 2013!
Novas seniores
Estreantes na categoria Sênior em 2013, nossas atletas
nascidas em 1997 vêm de um ano de altos e baixos; evoluíram significativamente,
mas também tiveram que enfrentar lesões – comuns a todo ginasta, além de
problemas com o peso e a forma física, recorrentes na fase por que passam – a
“temida” puberdade.
Durante as últimas 3 temporadas, quando, dos 13 aos 15 anos,
integraram nossa elite Juvenil, quatro meninas entre muitas que competem a
nível nacional se destacaram, mostraram talento e potencial, e por isso merecem
nossa atenção. São elas: Daniela Santana, do Grêmio Recreativo Barueri – SP, Isabelle
Retamiro, do Clube de Regatas do Flamengo – RJ, Stefany Campos, do Grêmio
Náutico União – RS e Mariana Valentin, do Centro de Excelência de Ginástica do
Paraná.
Agora, uma breve apresentação de cada uma, ressaltando suas
qualidades, seus melhores aparelhos e perspectivas pro ano que vem.
Daniela Santana
Depois de trocar de clube por 2 vezes, Daniela Santana teve seu lugar ao sol em 2012. A ginasta começou os treinos em Minas, e com 6 meses de treino conseguiu uma bolsa na Yashi. Não deu certo com seu treinador e pensou em desistir. Motivada a continuar na ginástica, Dani tentou contatos no Flamengo e em Curitiba, mas acabou por ficar em Barueri, sabendo da excelente notícia de que Roger Medina estaria no comando do clube. A parceria deu mais do que certo! Em mais ou menos um ano de treino, Daniela conseguiu séries completas em todos os aparelhos (todas com nota de partida acima de 5) e esse ano integrou a equipe juvenil do Brasil no Torneio Olympic Hopes, na Rússia.
Ela não foi bem nessa competição. Uma lesão grave no pé, que aconteceu durante os treinos na Rússia, a impediu de competir e também de participar de novas seletivas para outros campeonatos internacionais. No fim desse ano ela foi liberada para voltar a treinar e já conseguiu voltar com todas as séries que executava
antes da lesão.
O pior aparelho de Daniela é o salto. Até o momento ela executa só um yurchencko com mortal esticado. Na paralela, ela já executa o jaeger afastado, e treina o ginger e o comaneci, além de fazer saída D, de duplo para frente. Possui uma série básica na trave, mas que cumpre todas as exigências. No solo, ela já executa uma série com DTG, sequência 1.5-1.0, DG, DC. Em treinos, Daniela faz o tsukahara e a dupla pirueta e meia. E tem mais: Roger Medina afirmou que sonha com um duplo com dupla para Daniela. Imagina se ela consegue?
Daniela no solo, no fim de 2011. Campeã de solo no Sul-Americano de clube.
Isabelle Retamiro
Campeã nacional juvenil em 2011 e integrante por 3 vezes da
seleção brasileira de base, Isabelle é a representante do principal clube do
país atualmente, e esteve em excelente forma durante o ano passado. Entretanto,
teve um 2012 conturbado, com lesões e corte da equipe brasileira para o Pan-Americano
Juvenil de Medellín, na Colômbia, por “problemas com a balança”.
A ginasta rubro-negra é uma das nossas melhores saltadoras
da categoria, sendo capaz de executar Yurchenkos com pirueta e meia em
competição e treinar dupla, além de apresentar potencial na trave (com saída de
duplo mortal) e no solo (DTG e sequência de 1.5-1.0). Nas barras possui série
completa sob as regras do código juvenil da FIG, com destaque pra sua largada,
um Comaneci; no entanto, costuma ter problemas com a execução.
Série de solo mais recente de Isabelle. Uma pena não estar completa.
Salto.
Stefany Campos
Outro destaque das seleções brasileiras de 2009 a 2011,
quando representou o país nas categorias Infantil e Juvenil. Principal nome dos
grupos de 2009 (12 anos) e 2010 (aos 13) que viajaram aos Sul-Americanos de
Base, Stefany vem do clube das veteranas Adrian Gomes e Juliana Santos, e é
mais uma promessa gaúcha pra equipe nacional adulta.
Este ano, a grande representante unionista do time de
“debutantes” não teve muitos resultados de expressão, não conseguindo vaga em
nenhuma das duas seleções juvenis formadas pra competições internacionais, além
de ter aberto o ano com o “pé esquerdo”, ao deixar as disputas do Troféu Brasil
após uma queda inesperada nas barras.
Seu principal aparelho é o solo, podendo apresentar passadas
como Tsukahara e duplos. Nas barras, o destaque é o Tkatchev, tendo também
provas regulares de trave e bons saltos.
Stefany no solo.
Mariana Valentin
Treinada desde o fim do ano passado com o apoio do ucraniano
Oleg Ostapenko em Curitiba, Mariana é uma ginasta de linhas bonitas, exercícios
limpos e consistência. Ainda que não tenha representado o país em nenhuma das
temporadas passadas, a jovem promessa do Cegin conquistou alguns dos melhores
resultados este ano entre as ginastas de sua idade. Vale a pena lembrar que
durante o Estadual Paranaense de 2012 conseguiu uma impressionante pontuação de
14,6 na trave, com uma série sem muitas dificuldades, mas execução “impecável”.
No Brasileiro Adulto e Seletiva Sul-Americana Juvenil, ficou em segundo e
sétimo, respectivamente, sendo uma das reservas pro continental da Bolívia.
Seus principais aparelhos são trave e paralelas, embora no
último ainda não tenha apresentado rotinas completas em competição. Nas barras,
destacamos a transição pro BI e o Endo, e na trave, bastante flexibilidade no
sheep jump e amplitude nos saltos de “grande abertura”. Como dito acima, suas
séries não têm muitas dificuldades, mas costumam ser muito limpas e precisas.
Único vídeo disponível da Mariana.
Veteranas
O ano de 2013 está cada vez mais próximo e as expectativas e
especulações sobre quem deve continuar na equipe adulta brasileira rumo ao
Mundial da Bélgica, em Antuérpia, são cada vez maiores.
Como em 2009, a temporada 2013 deve ser de experimentação, desfalques
e uma possível queda no nível de competições internacionais, comum a todo ano
pós-olímpico. Sendo assim, as chances de bons resultados, inclusive de
medalhas, aumentam para países emergentes como o Brasil.
Das 9 ginastas que estiveram em preparação para a passada Olimpíada,
escolhemos três, cada uma com seu talento e possibilidades de voltar a nos representar
em grandes competições do calendário anual da FIG.
E para dar partida ao ciclo que se encerra na cidade do Rio
de Janeiro, em 2016, com os Jogos Olímpicos do Brasil, nossas experientes
atletas devem continuar sendo a base da seleção nacional e espelho para uma
jovem geração que aos 13, 14 anos, já carrega a “responsabilidade” de fazer
bonito competindo em casa.
Com base nos resultados obtidos em 2012 e nas perspectivas
para o próximo ano, nossas selecionadas foram Jade Barbosa, Daniele Hypólito e
Adrian Gomes.
Jade Barbosa
Principal esperança de medalha em Londres, mas cortada por
questões contratuais com patrocinadores da CBG, Jade Barbosa não desistiu do
esporte após 2 ciclos cumpridos, e continua sendo uma das grandes saltadoras do
mundo em atividade. Mas o futuro da atleta na seleção ainda parece incerto.
Talento descoberto pelo Clube de Regatas do Flamengo e
“lapidado” em Curitiba durante a Era Oleg, este ano foi o maior desfalque da
equipe olímpica, além de ter tido que superar a lesão crônica no punho direito
e problemas com o peso.
Em 2012, a ginasta rubro-negra chegou a treinar saltos como
o Mustafina e manteve o Yurchenko com dupla, os mesmos apresentados durante a
final olímpica pela campeã Sandra Izbasa, da Romênia, em Londres. Por seu
potencial e regularidade, Jade ainda tem muito para mostrar em 2013.
Jade treinando o Mustafina.
Daniele Hypólito
Capitã da equipe brasileira em Tóquio, 2011, e no
Evento-Teste de janeiro, Daniele Hypólito pode ser uma excelente “beam worker” pra
Bélgica, considerando sobretudo o bom trabalho que vinha mostrando durante os
treinos nesse aparelho. Talvez, tornar-se uma especialista de trave seja uma
ótima opção, visto que em 2013 o Mundial será individual, e suas maiores chances
estão nela, sua melhor prova.
A experiente ginasta de 28 anos e também representante do
CRF na seleção já declarou que não pretende se aposentar tão cedo, podendo ser
mais uma a dar base às próximas gerações.
Com 4 Olimpíadas disputadas, Daniele continuará sendo uma importante
integrante do grupo no ano que vem, especialmente por se manter ainda hoje em
alto rendimento.
Treino de trave da Daniele.
Adrian Gomes
Destaque brasileiro no Sul-Americano Adulto da Argentina,
Adrian Gomes é uma das nossas ginastas mais regulares e versáteis atualmente,
mas por causa de uma lesão constatada durante o período de preparação para
Londres, foi cortada da equipe que representou o país nos Jogos.
A gaúcha de 22 anos foi uma das integrantes do grupo
comandado pelo ucraniano Ostapenko em Curitiba, mas deixou a equipe e esteve
durante algum tempo fora da Ginástica. Mais experiente e decidida a voltar ao
esporte, Adrian fez sua estréia no Brasileiro Adulto de 2009, meses antes de
ser novamente convocada à seleção.
Para 2013, a atleta unionista deve ser uma das nossas
melhores “all-arounders”. Ela já apresentou séries de solo e trave muito boas, e já postou um vídeo de treino em que executava um DTY.
Nova coreografia de solo da Adrian. A série tem pouca dificuldade, já que o vídeo representa a volta da lesão que ela sofreu em Londres.
Boa série de trave.
Texto de Bernardo Abdo com a colaboração de Cedrick Willian. Da série “O que a
ginástica reserva”. Todo fim de ano faremos postagens sobre os maiores
nomes que competirão no ano seguinte. O último texto será escrito
exclusivamente sobre ginastas do Brasil. Ideia original de Marina
Aleixo.