No dia 04 de novembro de 2001, Daniele Hypólito, então com 17 anos, consolidou seu nome no cenário da ginástica internacional: foi a primeira ginasta brasileira a ganhar uma medalha em um Mundial de Ginástica. Além disso, foi 4ª colocada no individual geral. Daniele abriu portas para a ginástica do Brasil. Passaram-se quase 10 anos de sua maior conquista. Hoje, Daniele tem 26 anos…E na manhã do dia 11/03/2011, sexta-feira passada, no Clube de Regatas do Flamengo, Daniele Hypólito fez um treino espetacular. Quem assiste ao treino dela percebe o por quê de Daniele ser a atual campeã brasileira de ginástica no individual geral, e membro da seleção feminina desde 1994. Daniele treina. Daniele treina muito. Depois de um ótimo treino e com dores no joelho, Daniele partiu do ginásio direto para a sala de fisioterapia. A ginasta estava visivelmente cansada. Mesmo com visível cansaço, Daniele gentil e atenciosamente recebeu o Gym Blog Brazil ali mesmo, na sala de fisioterapia, enquanto cuidava do seu joelho…
GBB: Esse ano completa 10 anos que você ganhou a medalha de prata no solo em Ghent. Como está a Daniele de 10 anos depois?
DH: A Daniele de 10 anos depois continua do mesmo jeito: dedicada, se esforçando e determinada a ganhar outra medalha. É difícil, não vou dizer que é fácil, mas estou tentando e treinando bastante pra isso.
GBB: Você acha que tecnicamente você está melhor?
DH: Tecnicamente eu acho que eu sempre estive igual. Desde pequena eu fiz os exercícios com muita técnica, acho que a técnica não muda muito não, mas com certeza outras coisas mudaram sim. A idade é uma coisa que muda, mas minha força de vontade e a determinação são as mesmas.
GBB: Por exemplo: no salto você evoluiu…
DH: Sim, no salto sim. Acho que foi um dos aparelhos que eu evolui bastante. Nos outros, depois que eu voltei aos treinos, eu demorei um pouco a pegar o ritmo. Nas paralelas eu estou aprendendo algumas coisas novas, então é um aparelho que vai exigir um pouquinho mais de tempo pra eu voltar a competir esse ano, porque meu objetivo é estar com tudo pronto no Mundial . Na trave já está tudo normal, no solo estou com uma série limpa, mas ao mesmo tempo eu vou mudar algumas coisas também para o Mundial e isso mostra uma evolução do ano passado pra cá. Não que eu tenha evoluído tecnicamente, porque são coisas que, na verdade, eu estou voltando a fazer.
GBB: No treino você fez o duplo esticado no solo, que tinha muito tempo que você não fazia.
DH: Desde o ano passado eu voltei a treinar, mas é claro que é um elemento muito mais técnico, eu tenho que estar bem segura pra fazer no solo; eu vou estar treinando muito para o Mundial, exatamente porque é um dos elementos que eu vou fazer esse ano. Então eu estou me esforçando bastante, fazendo bastante preparação física que, com certeza, é necessário. Até o Mundial vai ter muita coisa diferente. Minha série de paralelas está sendo preparada com coisas novas…
GBB: Você está treinando o “yager”…
DH: Esse sim foi um dos poucos movimentos da paralela que eu aprendi depois de mais velha. Nunca tinha feito saída pra frente, não tinha nenhuma noção de soltar a mão daquele jeito. Por eu não ter apurada essa técnica de saída, eu tenho que de vez em quando voltar, fazer o básico de novo, mas isso é só até eu pegar realmente a técnica para eu não ter problema como eu não tenho nos outros elementos.
GBB: Tem um vídeo seu na internet em que você faz o Yurchenko com dupla pirueta. Você acha que você vai conseguir executar? Por que no vídeo você faz com o colchão no fosso…
DH: O colchão estava na altura do trampolim; é porque o vídeo é de filmagem amadora e não dá pra perceber. Com a chegada do salto, o colchão afunda um pouco e dá a impressão que estava mais baixo. Com certeza eu estou treinando para sair no colchão duro, normal, pra executar sem problemas.
GBB: Vai aumentar sua nota de partida no individual geral, a série nova de paralelas com o salto.
DH: O objetivo é esse: aumentar a nota de partida em todos os aparelhos. Não só do salto ou da paralela; o solo vai aumentar também e a trave, do Mundial pra cá, também já aumentou, porque foi incluído um mortal pra frente. Também não adianta só aumentar a nota de partida, tem que executar as séries de forma limpa. E isso ás vezes as pessoas não entendem. Por exemplo, o Mundial passado pra mim foi muito bom, tanto que eu entrei para a final no individual geral. Em Guadalajara eu fiz uma série de solo mais complicada, e no Mundial eu fiz uma mais simples e tirei bem mais nota que em Guadalajara. Hoje em dia tem que saber montar a série e executá-la bem. Tem que cravar todas as passadas pra não ter tanto descontos em chegada. No Mundial eu consegui cravar todas as passadas, e eu estou treinando muito isso: cravar chegadas!
GBB: Em 2006, na Super final da Copa do Mundo, você ganhou uma medalha de prata na trave de equilíbrio. Você tem alguma expectativa de entrar pra final de trave no Mundial?
DH: Olha, a minha intenção esse ano é passar bem no Mundial, eu quero competir o primeiro dia muito bem. O primeiro dia é o mais importante. Todos os atletas que estão ali estão treinando para tentar chegar na final. Mas a coisa mais importante que temos que pensar é justamente esse primeiro dia. Ali que vamos classificar uma equipe pra Olimpíada do ano que vem. Não vai ser fácil, no outro ano, fazer um Mundial e uma Olimpíada juntos. É muito melhor esforçar esse ano pra realmente chegar classificado pra Olimpíada sem ter que fazer Mundial ano que vem. Por isso, o primeiro dia é o mais importante. Toda a seleção está se esforçando pra isso e, claro, do primeiro dia pode vir as finais, que é uma conseqüência do treinamento de todo ano. Se eu fizer uma ótima competição, com dificuldades e com boa execução, eu acho que consigo entrar pra uma final, individual geral ou aparelho; fazendo o que eu treinei o ano inteiro na hora da competição eu posso conseguir sim.
GBB: Você é uma das ginastas mais velhas ainda na ativa. Você acha que a idade está pesando no seu treinamento agora?
DH: Acho que já foi a época em que a idade pesava. O atleta tem que ter um foco na cabeça e a parte de preparação física tem que estar muito boa, e é isso que segura meu treinamento todo.
GBB: Quais são seus objetivos na Copa do Mundo de Doha, no fim do mês?
DH: Meu objetivo em Doha é começar o ano passando bem pela competição. Tudo é conseqüência do que eu fiz esses meses. Treinei bem solo, salto, treinei bem a trave. Só a paralela que ainda não está pronta e eu não vou competir; há uma necessidade de mudar a série e a nota de partida, porque é o aparelho que me derrubou muito no individual geral. É o aparelho que eu precisava parar e mudar radicalmente e foi o que eu fiz esse ano. E no salto, por eu ter ficado um pouco parada por causa das minhas costas, eu não vou fazer a dupla pirueta. Mas vou saltar os saltos do ano passado: yurchenko com uma pirueta e meia e o mortal carpado com meia pirueta.
GBB: Você acha que a equipe feminina conseguirá a vaga para as Olimpíadas no Mundial desse ano?
DH: Eu não estaria dando crédito pro meu trabalho se eu te falasse que não temos chance. A gente tem chance sim, mas tem que treinar bastante, porque da mesma forma com que estaremos tentando a vaga, muitas equipes que disputam com a gente estarão tentando também. Eu acho que esse ano é um ano importante para todas as ginastas. Com certeza temos chance, mas temos que acreditar primeiro em nós, fazendo o nosso trabalho bem feito até o Mundial. Temos que passar o primeiro dia bem, limpo, bem executado. Não depende só de nós, depende da arbitragem também, que é um pouco subjetiva. Dependemos de uma equipe inteira que se ajude e conquiste essa vaga. Temos mais possibilidades de ginastas esse ano, mas independente de quem entrar na equipe, tem que entrar com a cabeça de que precisamos fazer uma excelente competição, pra que consigamos classificar direto pra Olimpíada sem precisar fazer um Mundial e uma Olimpíada ano que vem.
Por Cedrick Willian
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