Durante essa semana todos os olhares da ginástica brasileira se voltaram para Diego Hypólito. O ginasta, em um desabafo nas redes sociais, comunicou que estava viajando para a aclimatação da seleção como segundo reserva da equipe que competirá no Mundial. Para quem estava acostumado a ver o Diego sempre na equipe, assim como ele, foi um pouco estranho receber essa notícia.
De acordo com o desabafo postado, Diego foi retirado da equipe porque não tinha chances de medalha. Se esse foi realmente o motivo para ter sido cortado, Diego tem motivos pra ficar chateado, já que isso não é verdade. Ele está com uma série de solo com nota D de 7 pontos e acaba de voltar do Pan-Americano de Ginástica com uma medalha de prata. Diego ainda apresenta dois saltos bons para tentar finais nesse aparelho, e de acordo com o ranking de resultados da FIG, ele é o 6º melhor do mundo. Apesar de não ser o mesmo ginasta de 6 ou 7 anos atrás, quando bastava acertar a série que o ouro era garantido, Diego tem chances reais de entrar nas finais de solo e salto. Dentro de uma final, 8 ginastas lutam por 3 medalhas. E qualquer um pode ser medalhista em uma final, o que torna o motivo do corte incompreensível.
Analisando por outro lado, acredito que o motivo real do corte não foram as chances de medalhas de Diego. De acordo com a equipe selecionada, nota-se claramente que a estratégia de escolha dos atletas foi toda voltada para uma tentativa de final por equipes. E se o motivo foi esse, tenho que concordar com a escolha correta. Apesar de admirar Diego Hypólito e todo seu talento e resultados, admito que atualmente ele colabora pouco nos outros aparelhos. A nota que Diego alcança no solo é pouco acima do que ginastas como Arthur Zanetti, Arthur Nory e Sérgio Sasaki alcançam. A nota que Diego alcança no salto já foi igualada ou superada por Sasaki, Caio Souza, Arthur Nory e até por Ângelo Assumpção, que nem foi convocado para os treinos. Enquanto isso, as notas que Diego alcança nos outros aparelhos que compete são consideravelmente inferiores aos outros ginastas. A equipe vai conseguir se virar sem as notas de Diego no solo e salto, mas teria grandes dificuldades em superar a falta de, por exemplo, Arthur Nory no cavalo com alças, barra fixa e paralela.
A parte boa disso tudo é a competição interna que acaba de começar na ginástica artística masculina. Não é só Diego que ficou de fora. Henrique Medina, medalhista em Copa do Mundo, em Campeonato Sul-Americano e grande potencial nas argolas, não foi convocado. Péricles Silva, figura marcada nas últimas equipes e participante do Mundial 2013, não foi convocado. A vontade de ser o melhor que puder e a manutenção do foco nos treinamentos devem ser maiores do que nunca. A renovação chegou! E isso, pra mim, é motivo de comemoração.
Espero que Diego absorva a situação da melhor forma possível. Espero que ele entenda que notas acima de 14.500 nos outros aparelhos são tão importantes para a equipe quanto um 15.600 no solo. E que isso seja motivo pra ele voltar para o ginásio com uma vontade enorme de ser melhor. Que isso seja motivo para ele mostrar uma evolução tão grande na barra fixa a ponto de querer postar uma novidade de sua série no Instagram, como ele sempre faz quando consegue algo novo nos exercícios de solo. Aí teremos uma equipe com mais potencial de medalhas individuais, mas que também funcione como equipe da melhor forma possível.
O caminho mais provável de se classificar 5 ginastas para os Jogos do Rio é conseguindo a classificação por equipes. O caminho mais difícil seria torcer para que 5 especialistas conquistem medalhas no Mundial do ano que vem e se classifiquem individualmente. Vou assistir o Mundial, no início do próximo mês, torcendo para que o Brasil consiga uma histórica classificação para a final por equipes. Entre um caminho e outro, me sinto mais seguro com o primeiro.
Foto: Ricardo Bufolin