O ciclo olímpico terminou e, com ele, o contrato do treinador chefe da seleção feminina. O russo Alexander Alexandrov executou um bom trabalho com a Confederação Brasileira de Ginástica e com o Comitê Olímpico Brasileiro (classificar a equipe feminina para os Jogos do Rio); agora, se despede do Brasil com o dever cumprido. Ou não.
Os Jogos do Rio terminaram e a seleção feminina ainda não conquistou sua primeira medalha olímpica. Fica uma questão: qual o conhecimento deixado com a estadia de Alexandrov no Brasil? Qual o legado dos Jogos Olímpicos para a ginástica do nosso país?
Mais uma vez uma situação desesperadora teve que ser desesperadoramente remediada. Mas as causas do desespero provavelmente ainda continuam no Brasil. O que Alexandrov fez, falando de trabalho técnico, foi excelente, mas se tratando de montagem de séries, bastava abrir o código de pontuação da ginástica, disponível gratuitamente no site da FIG, para vários problemas serem resolvidos; isso desde 2008, quando Oleg Ostapenko deixou o Brasil pela primeira vez.
Alexandrov vai embora e pouquíssimos treinadores tiveram acesso a ele. Apenas alguns tiveram a oportunidade de vivenciar e aprender toda a experiência e técnica desse grande treinador. E isso muito por conta da pressa em ter que resolver tantos problemas em apenas três anos. Não houve tempo para os prometidos “camps” e troca de informações, mas, mesmo se houvesse mais tempo, realmente teriam feito isso? A culpa foi do tempo apertado ou da direção que não proporcionou esses momentos para todos os treinadores interessados?
Essa dúvida só não é maior do que a que permeia esse texto. A ginástica feminina brasileira, depois da despedida de mais um treinador milagroso, pode estar, mais uma vez, correndo sérios riscos de beirar o fracasso. Principalmente porque pouquíssimos treinadores foram abençoados com os “milagres” de Alexandrov.
A partir de agora, e de acordo com toda as situações antigas e recorrentes, o esperado é: vamos voltar a cometer os mesmos erros. Mesmo direcionamento, mesmo pensamento e poucas pessoas capacitadas. Até o próximo treinador chegar, quando tudo estiver um caos, e trancar 12 ginastas e 3 treinadores num centro de treinamento, dando o seu máximo para fazer um trabalho de 3 ciclos em 3 anos.
Se a ginástica do Brasil não for avaliada e profundamente estudada, nunca vamos sair dessa. Entra treinador, sai treinador; entra investimento, sai investimento. E assim continuamos, buscando uma medalha que nunca vem, estagnados. A ginástica feminina precisa urgente de uma identidade própria, algo que realmente funcione e se estabilize, como a ginástica masculina fez. E assim, a contratação de um treinador estrangeiro viria para somar a um sistema bem estruturado, e não para atender aos pedidos devotos de COB e CBG.
Ciclo 2016-2020: boa sorte, Brasil!
Texto de Cedrick Willian
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