Carta de uma mãe ginasta

Muitos “fãs” criticam os ginastas, principalmente do Brasil, por resultados não esperados/alcançados. Pense um pouco: se você não ficou feliz com o resultado, imagina o atleta??? Se você for um desses “fãs”, ler o que foi escrito por essa mãe te fará repensar as críticas numa próxima vez. Ginástica não se faz apenas dentro de um ginásio treinando um tsukahara para acrescentar um exercício de valor “E” na série… Ginástica se faz através de escolhas, escolhas que podem definir um futuro profissional cheio de alegrias construído por um passado de difíceis renúncias.

“Queridos Meninos e Meninas do Intelligymnastics!!! (grupo de ginástica do Facebook)


Oi Hugo, amei o vídeo, muitooooo obrigada mesmo, de coração. Você não imagina a felicidade de ver a nossa filha, é uma mistura de muitos sentimentos: saudade, orgulho, amor, carinho, felicidade, dor pela ausência, tristeza pela distância. Acho que tudo isso e mais um pouco resumem a minha necessidade de obter uma foto, um vídeo ou apenas uma notícia.
A ansiedade é grande, e o coração muito apertado. Minha filha era a minha companheirinha de todos os dias, do acordar ao dormir, minha melhor amiga, minha alegria, minha esperança. Estávamos sempre juntas. Era maravilhoso acompanhá-la em tudo sempre, levar à escola, aos treinos, nos terríveis trânsitos da cidade, nos shoppings, passeios, enfim… Coisas simples da vida que toda mãe tem com a sua filha. Mas um belo dia houve a necessidade de mudar de cidade, de clube, de vida, e de repente todas essas pequenas e tão importantes coisas simples, se tornaram só às vezes ou quase nunca.
É bem difícil, muito difícil… Acho que a gente com o passar dos anos se prepara para o crescimento dos filhos, cresce junto com eles e amadurece para isso. Mas nesse caso não, a Julie (Kim) saiu de casa criança, firme das suas convicções, com mil objetivos, abriu mão de toda uma estrutura, de uma vida, de um lar em busca de um sonho. Muitas vezes eu me pergunto: tem que ser muito gente grande para ter uma atitude assim, não é verdade??? Quantos de nós aos 13 anos (no caso dela), e outras até com bem menos, se sujeitam a isso? É muita coragem, muita determinação, muito amor a um sonho mesmo, não é? Quantos de nós abririam mão de tudo na vida por um esporte???
É por isso que eu sempre digo: “Essas meninas, são crianças especiais sim, independente de qualquer medalha, classificação, já são campeãs da vida, nas escolhas, na perseverança, na fé que possuem, na luta constante em que vivem”.
Muitos me criticaram e criticam até hoje pelo simples fato de me acharem louca por ter aceitado deixar a minha filha partir, entregá-la a pessoas consideradas desconhecidas, e não estar ao lado na fase mais importante e difícil de sua vida. Às vezes me questiono sim por tudo isso, mas sei que é pelo bem, pela vida e sonho dela. Vivemos felizes por mais de 10 anos na Yashi, onde tudo começou, onde ela deu os primeiros passinhos e se desenvolveu nesse esporte, local que abriu todas as portas e consagrou esse sonho no coração dela. Dali, a grandiosa Yashi, só temos a agradecer.
Hoje, no Flamengo, ela vive treinamentos mais intensificados com uma rotina bem mais pesada mas sempre feliz, ao lado de treinadores que hoje são como seus pais (Keli Kitaura e Francisco Porath), pois além de técnicos também fazem o papel de pai e mãe, o que não é fácil. E posso dizer que fazem da melhor maneira possível, pois entreguei a eles o meu maior tesouro e este está muito bem cuidado e criado.
Sou a mãe mais coruja do planeta, é um amor gigantesco, indescritível, vou acompanhá-la sempre, mesmo que de longe, vou estar perto, o mais próximo que eu puder. Agradeço muito a todos vocês: Hugo, Patrícia, Bernardo, Matheus, Thiago, Marcos, Bruno, Cedrick e tantos outros, que curtem esse mundo tão maravilhoso e lindo chamado ginástica, que nos colocam a par de tantas notícias, que acreditam nos nossos ginastas, e com isso divulgam e ajudam o nosso esporte crescer. Muito obrigadaaa!!!”
Quem escreveu o texto foi Anita Rey, mãe da ginasta Julie Kim. Julie não é a principal ginasta juvenil do Brasil, mas é uma das principais atletas quem tem idade para 2016 e esteve presente no último Camping de Treinamento da seleção feminina de ginástica artística. Anita entende os sonhos da filha e sofre com os erros da filha, mas se alegra com as conquistas e vitórias. Anita é uma mãe ginasta.
Quem garante que Julie estará presente nos Jogos de 2016? E quem garante que ela não estará? Seu julgamento em nada muda uma possibilidade que está bem longe de acontecer. O que todos sabemos é que a ginástica é uma caixinha de surpresas. Existem lesões, melhoras, pioras, mudanças de ideais, adaptações ao código de pontuação, crescimento ósseo, puberdade… Julie foi permitida por sua mãe a fazer escolhas muito sérias para simplesmente estar dentro dessa caixinha de surpresas. Na ginástica, nada é garantido.

Essa é a história da Julie Kim, contada por sua mãe. Mas tem muitos pais de ginastas que têm uma história igual ou parecida para contar. É muito fácil sentar na frente do computador e apreciar uma série de ginástica, e julgar toda uma vida de renúncias e treinamentos em pouco menos de dois minutos. Agora eu quero ver você conseguir fazer um tsukahara bem executado! Acredite: essa provavelmente é a parte mais simples do treinamento de um ginasta.

Postagens Recentes

  • ginástica

UPAG PAGU define calendário da ginástica pan-americana para 2025

Agenda começa em maio com a ginástica de trampolim e encerra em novembro com a…

  • Notícias

Obrigado Zanetti! Ídolo do esporte brasileiro encerra carreira

Com duas medalhas olímpicas no peito, ginasta escolhe se aposentar aos 34 anos Crédito: Um…