Enquanto a ginástica artística feminina passa por uma fase ruim, a ginástica artística masculina está em um momento completamente diferente. E o melhor de tudo: a situação só tende a melhorar. Ano que vem tem tudo para ser bem melhor. E mais histórico ainda!
Mundial de Tóquio
No mês passado eu escrevi um texto sobre as chances reais e as possibilidades dos meninos no Mundial. Se você ainda não leu, clique aqui. No texto eu havia dito que a equipe masculina certamente se classificaria para Londres, Diego Hypólito conquistaria uma medalha na final de solo, Arthur Zanetti estaria na final de argolas e Sérgio Sasaki na final do individual geral. De todas as certezas apenas a final de Sasaki não aconteceu. Mas foi por pouco! Apesar de ter voltado aos treinos de solo e salto somente no Japão, Sasaki quase chegou à final. Independente dessa volta tardia aos treinos de dois aparelhos em que o Sasaki tem pontuações muito altas, Sasaki ajudou muito a equipe a conseguir a classificação: suas notas entraram para a nota final da equipe, segundo o critério de avaliação do código de pontuação. No texto eu também afirmei que o Brasil, possivelmente, estaria na final de salto com o Diego Hypólito, que Arthur poderia ser medalhista nas argolas e que Sasaki poderia ser top 15 no individual geral. A final de salto de Diego quase veio (mesmo não saltando os saltos mais difíceis que ele apresentou ultimamente), a medalha de Arthur veio (inédita e de prata!) e Sasaki não entrou pra final do individual geral. Acima de todos os resultados dos meninos nesse Mundial, temos um resultado que também foi histórico e que eu considero o melhor de todos: a presença garantida de dois brasileiros nos Jogos Olímpicos.
Pan-americano de Guadalajara
Duas semanas depois a mesma equipe continuou fazendo história. O Brasil é campeão pan-americano por equipes! Um resultado mais do que histórico. Um resultado fantástico e consequente de uma equipe de técnicos e atletas que trabalham juntos e que, acima de tudo, tiveram vontade e garra pra correr atrás desse objetivo. Pra quem assistiu a competição foi possível observar a visível determinação nas expressões de cada um, a força de vontade, o desejo da realização de um sonho. E, por favor, não venha querer justificar a vitória deles de forma negativa, dizendo que os Estados Unidos e o Canadá competiram com equipe “B” no Pan. Eles competiram com a equipe “B” sim, mas isso não tira o mérito do Brasil. Falando do Canadá no Mundial, o Brasil ficou a apenas 0.5 ponto atrás. O Canadá que se cuide na repescagem! Já a equipe “A” dos Estados Unidos conquistou a vaga pros Jogos Olímpicos no Mundial e ficou bem á frente do Brasil, mas pelo menos agora a confederação americana sabe que pra se conquistar o título Pan-americano é necessário a equipe mais forte que eles têm. A equipe “B” já não é forte o suficiente pra competir no Pan.
Qual o motivo do sucesso?
Um conjunto de fatores levaram a equipe ao bom desempenho. A equipe está muito bem tecnicamente, mas não é só isso que traz o sucesso na ginástica. O espírito de equipe, o entrosamento entre ginastas, o trabalho dos técnicos e a vontade de vencer foram muito importantes também. O desejo de alcançar um sonho…Quem não sonha não tem um objetivo pra alcançar. Quem não quer nada, entra pra arena sem objetivos e o resultado tanto faz. Mas pra eles não. Eles queriam a classificação, eles queriam ser campeões pan-americanos, eles querem estar nos Jogos Olímpicos. Ginasta sem motivação não existe, pode ter o talento que for. Eu prefiro um ginasta mediano com uma “estrela” dentro de si do que um mega talentoso com zero de vontade e motivação. Motivação não se treina.
Lembrando do Pan de 2007, a equipe que competiu agora foi quase 100% renovada. Só Diego estava no Pan passado. Dizendo isso não quero afirmar que renovação é a saída para todos os problemas. Victor Rosa e Mosiah Rodrigues não estava por lá por motivos de saúde. Dizendo isso eu quero mostrar que o Brasil chegou em um nível de ginástica em que se é cada vez mais difícil selecionar atletas pra equipe. Isso não é fantástico? Temos ginastas tão bons que está ficando difícil escolher! Pense um pouco: se o Brasil classificar uma equipe completa pra Londres, em que apenas 5 ginastas comporão a equipe, como escolher?! Escolher os ginastas que competirão na repescagem já será um trabalho difícil… desejo sorte pra quem for desempenhar esse trabalho!
O trabalho de renovação dos ginastas começou há algum tempo. Tive a oportunidade de estar no Brasileiro de 2006, de categorias de base, e lembro de alguns dos atuais ginastas da seleção. Nessa época ainda eram novos, mas já apresentavam um nível muito bom. São ginastas dos anos 2000. São esses ginastas que estão chegando na categoria adulta, e chegando com um nível de ginástica muito bom. Nota-se claramente a preocupação dos técnicos em montar os treinamentos e séries com base no código de pontuação. E o melhor de tudo: considero a escola de ginástica masculina do Brasil originalmente brasileira, sem tantas interferências estrangeiras, sem seleção permanente e sem nenhum modelo ou padrão a seguir a não ser o nosso. Isso mostra que o Brasil está no caminho certo. O objetivo agora é se manter nesse caminho, e consequentemente manter os resultados.
Brasil em Londres
Já faz muito tempo que venho falando dessa chance real que o Brasil possui: classificar uma equipe completa para os Jogos Olímpicos. Desde o início do ano já havia falado dessa possibilidade. Na verdade o fato nunca esteve tão perto de acontecer. Agora que voltaram pra casa, todos merecem um descanso, mas nada que atrapalhe a periodização do treinamento para a repescagem.
A chance está logo ali, bem perto do nosso alcance. Desejo que todo esse talento, vontade e determinação continue fazendo o sucesso dessa equipe. Esse sucesso que é a tradução da minha sincera torcida.
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