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Com notas muito altas, China define equipe feminina para o Mundial
16 de setembro de 2019
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A nova gestão da ginástica
18 de outubro de 2019
Sentindo, ouvindo, lendo e vendo tantas coisas, ficou difícil
colocar as ideias no lugar. Não tenho mais tido tempo para escrever como antes,
mas não consigo parar de pensar sobre a nossa ginástica, o que ela é e o que poderia
ser. São muitos anos acompanhando nosso esporte, torcendo, incentivando, criticando,
mas, acima de tudo, amando e querendo o melhor, que faltam palavras, textos e
discussões para falar de um assunto tão complexo como o que vive atualmente a
nossa ginástica. É preciso uma análise histórica de todos os nossos momentos
até aqui, tanto da ginástica masculina como a feminina, dita e exemplificada. A
melhor forma de fazer isso é escrevendo e lembrando que não sou o dono da
verdade, mas a moderação da minha verdade é um serviço prestado à mentira, e
isso não quero fazer.
colocar as ideias no lugar. Não tenho mais tido tempo para escrever como antes,
mas não consigo parar de pensar sobre a nossa ginástica, o que ela é e o que poderia
ser. São muitos anos acompanhando nosso esporte, torcendo, incentivando, criticando,
mas, acima de tudo, amando e querendo o melhor, que faltam palavras, textos e
discussões para falar de um assunto tão complexo como o que vive atualmente a
nossa ginástica. É preciso uma análise histórica de todos os nossos momentos
até aqui, tanto da ginástica masculina como a feminina, dita e exemplificada. A
melhor forma de fazer isso é escrevendo e lembrando que não sou o dono da
verdade, mas a moderação da minha verdade é um serviço prestado à mentira, e
isso não quero fazer.
No começo da seleção permanente, se não me engano em 2002, o
mesmo esquema de treinos foi oferecido para as duas seleções: a masculina e a
feminina. Enquanto a feminina colhia os louros da vitória, com Daiane dos
Santos campeã mundial em 2003, super cotada para ser campeã olímpica em 2004
(falhou) e ainda com a classificação olímpica da equipe em 2004, a ginástica
masculina, que abdicou da seleção permanente, era vista como o patinho feio da
ginástica do Brasil. Até a ginástica rítmica ainda se classificava para os
Jogos Olímpicos e estava em finais olímpicas, enquanto a masculina não tinha
nada. A justificativa de não estarem dentro do “esquema” era uma desculpa sempre
ouvida como o fator responsável pela falta de sucesso do masculino.
mesmo esquema de treinos foi oferecido para as duas seleções: a masculina e a
feminina. Enquanto a feminina colhia os louros da vitória, com Daiane dos
Santos campeã mundial em 2003, super cotada para ser campeã olímpica em 2004
(falhou) e ainda com a classificação olímpica da equipe em 2004, a ginástica
masculina, que abdicou da seleção permanente, era vista como o patinho feio da
ginástica do Brasil. Até a ginástica rítmica ainda se classificava para os
Jogos Olímpicos e estava em finais olímpicas, enquanto a masculina não tinha
nada. A justificativa de não estarem dentro do “esquema” era uma desculpa sempre
ouvida como o fator responsável pela falta de sucesso do masculino.
Não bastou Diego Hypólito ter conquistado 3 medalhas
mundiais entre os anos de 2005 e 2007: o masculino agora era “bom só de solo” enquanto
a feminina tinha uma all arounder medalhista mundial – Jade Barbosa – e a
equipe se classificava para os Jogos Olímpicos mais uma vez. A ginástica masculina
continuava trabalhando e tentando achar o próprio caminho. Daiane, sofrendo com
cirurgias e lesões no joelho, falha na sua segunda tentativa de medalha
olímpica e Diego falha também.
mundiais entre os anos de 2005 e 2007: o masculino agora era “bom só de solo” enquanto
a feminina tinha uma all arounder medalhista mundial – Jade Barbosa – e a
equipe se classificava para os Jogos Olímpicos mais uma vez. A ginástica masculina
continuava trabalhando e tentando achar o próprio caminho. Daiane, sofrendo com
cirurgias e lesões no joelho, falha na sua segunda tentativa de medalha
olímpica e Diego falha também.
Nesse momento os recursos acabam. Claro: quando resultado
olímpico não aparece, o dinheiro é remanejado. O nome disso é política e dentro
do esporte ela existe também. Dentro do Comitê Olímpico, cada esporte quer mais recursos que o outro; cada gestão esportiva quer cortar o pescoço da outra e, para isso, não existe argumento melhor
do que uma medalha olímpica ou a falta dela. Todo fim de ciclo olímpico é a
mesma coisa! Ou toda vez que acontece algo polêmico como, por exemplo, o caso
do treinador Fernando Lopes.
olímpico não aparece, o dinheiro é remanejado. O nome disso é política e dentro
do esporte ela existe também. Dentro do Comitê Olímpico, cada esporte quer mais recursos que o outro; cada gestão esportiva quer cortar o pescoço da outra e, para isso, não existe argumento melhor
do que uma medalha olímpica ou a falta dela. Todo fim de ciclo olímpico é a
mesma coisa! Ou toda vez que acontece algo polêmico como, por exemplo, o caso
do treinador Fernando Lopes.
No ciclo 2009-2012, disseram que foi feita uma tentativa
de sair da seleção permanente e que isso não funcionou. Na verdade, por conta
do fracasso da seleção permanente, faltou grana mesmo pra sustentar e continuar o esquema permanente. O CEGIN não concordava e nem participava dos camps que
aconteceram nessa época. Tudo ainda continuava na mão da antiga gestão e com peso
nas costas das ginastas mais antigas, aquelas que sobreviveram aos treinos fechados e agora lutavam em seus clubes para continuar em forma, tanto física quanto
técnica. Ficar no peso ideal sem a pressão da seleção permanente é difícil, não
é mesmo? Afinal, agora as ginastas podiam comer mais do que três uvas no jantar.
de sair da seleção permanente e que isso não funcionou. Na verdade, por conta
do fracasso da seleção permanente, faltou grana mesmo pra sustentar e continuar o esquema permanente. O CEGIN não concordava e nem participava dos camps que
aconteceram nessa época. Tudo ainda continuava na mão da antiga gestão e com peso
nas costas das ginastas mais antigas, aquelas que sobreviveram aos treinos fechados e agora lutavam em seus clubes para continuar em forma, tanto física quanto
técnica. Ficar no peso ideal sem a pressão da seleção permanente é difícil, não
é mesmo? Afinal, agora as ginastas podiam comer mais do que três uvas no jantar.
Sem renovação e motivados por alguma mudança, os treinadores dessa época suaram a camisa e merecem aplausos
por terem continuado pós-seleção permanente. Consigo citar Ricardo Pereira e Adriana Alves, que ressuscitou
a Adrian Gomes, uma ginasta que foi essencial nessa época. A sofrida
classificação olímpica aconteceu, mas foi só no Evento Teste, mesmo que para
uma participação extremamente discreta nas classificatórias de Londres 2012. Enquanto isso, a ginástica masculina, que sempre teve sua vivência dentro dos
clubes, agora tinha uma medalha de ouro olímpica: Arthur Zanetti, campeão
olímpico de argolas mesmo sem uma equipe completa nos Jogos. Zanetti – assim como
Diego – conseguiu sua classificação olímpica com uma medalha no Mundial de 2011.
O masculino subia um degrau a cada ano, confiando sempre que estavam no caminho
certo. E agora, além do solo, tinham resultados em outro aparelho e o respeito de uma nação
inteira.
por terem continuado pós-seleção permanente. Consigo citar Ricardo Pereira e Adriana Alves, que ressuscitou
a Adrian Gomes, uma ginasta que foi essencial nessa época. A sofrida
classificação olímpica aconteceu, mas foi só no Evento Teste, mesmo que para
uma participação extremamente discreta nas classificatórias de Londres 2012. Enquanto isso, a ginástica masculina, que sempre teve sua vivência dentro dos
clubes, agora tinha uma medalha de ouro olímpica: Arthur Zanetti, campeão
olímpico de argolas mesmo sem uma equipe completa nos Jogos. Zanetti – assim como
Diego – conseguiu sua classificação olímpica com uma medalha no Mundial de 2011.
O masculino subia um degrau a cada ano, confiando sempre que estavam no caminho
certo. E agora, além do solo, tinham resultados em outro aparelho e o respeito de uma nação
inteira.
Nesse tempo, Francisco Porath, Alexandre Cuia, Keli Kitaura
e Roger Medina, caminhavam na busca de novos talentos, construindo ginastas que
hoje são o pilar da nossa seleção. Mas só foram capazes de fazer isso porque
não faziam parte do esquema antigo da seleção permanente. Se estivessem dentro do
esquema que se encerrou em 2008 nunca haveria a chance de descobrir as ginastas
que temos hoje. Eles estavam nos clubes com elas e graças a eles não tivemos um
buraco no ciclo 2012-2016.
e Roger Medina, caminhavam na busca de novos talentos, construindo ginastas que
hoje são o pilar da nossa seleção. Mas só foram capazes de fazer isso porque
não faziam parte do esquema antigo da seleção permanente. Se estivessem dentro do
esquema que se encerrou em 2008 nunca haveria a chance de descobrir as ginastas
que temos hoje. Eles estavam nos clubes com elas e graças a eles não tivemos um
buraco no ciclo 2012-2016.
Com os Jogos Olímpicos acontecendo em casa, os investimentos
voltaram e isso foi um prato cheio para a volta do que todos temiam. É justamente
quando a seleção permanente volta, com a participação desses novos treinadores.
Agora são eles que estão trancados no CT junto com todas as suas atletas. O
trabalho nos clubes é consideravelmente diminuído sem a presença deles e começa
tudo de novo. Poucas ginastas, poucos treinadores, pouco conhecimento difundido,
pouca liberdade e muito controle sobre a vida de todos que fazem parte do
esquema. Ninguém entrava nem saía. Era ali, fechado, sem a esperança de que um
treinador ou qualquer outra ginasta de fora pudessem estar ali também, adquirindo experiência,
treinamento e chances de representar o Brasil. Quem decidia quem entrava e saía
eram as dirigentes da antiga gestão. O acesso da imprensa não existia. O Gym
Blog Brazil nunca pisou dentro do CT durante a seleção permanente.
voltaram e isso foi um prato cheio para a volta do que todos temiam. É justamente
quando a seleção permanente volta, com a participação desses novos treinadores.
Agora são eles que estão trancados no CT junto com todas as suas atletas. O
trabalho nos clubes é consideravelmente diminuído sem a presença deles e começa
tudo de novo. Poucas ginastas, poucos treinadores, pouco conhecimento difundido,
pouca liberdade e muito controle sobre a vida de todos que fazem parte do
esquema. Ninguém entrava nem saía. Era ali, fechado, sem a esperança de que um
treinador ou qualquer outra ginasta de fora pudessem estar ali também, adquirindo experiência,
treinamento e chances de representar o Brasil. Quem decidia quem entrava e saía
eram as dirigentes da antiga gestão. O acesso da imprensa não existia. O Gym
Blog Brazil nunca pisou dentro do CT durante a seleção permanente.
Só que, como todos sabem, o fracasso também aconteceu. A
classificação olímpica veio só no Evento Teste e, novamente, muitas lesões e nenhuma
medalha olímpica. Sabe o que realmente aconteceu desde 2002? Ginastas eram agredidas moral
e fisicamente por treinadores soviéticos; ginastas urinavam sangue porque não
podiam beber água; copos de água eram comparados com uma barrinha de chocolate,
porque 200ml de água pesam mais do que 30g de chocolate; jantar = 3 uvas;
ginastas com bulimia; acesso restrito à família; atletas treinando na segunda até
o peso voltar ao de sábado e enquanto não voltar não podia ir embora; ginasta
do norte do país sendo ridicularizada na frente de todos; bullying; treinadores com depressão e mais algumas coisas que não convém
comentar. Quem concorda com isso é desumano, não ama o próximo e não sabe se
colocar no lugar do outro que viveu isso todos os dias de domingo a domingo.
classificação olímpica veio só no Evento Teste e, novamente, muitas lesões e nenhuma
medalha olímpica. Sabe o que realmente aconteceu desde 2002? Ginastas eram agredidas moral
e fisicamente por treinadores soviéticos; ginastas urinavam sangue porque não
podiam beber água; copos de água eram comparados com uma barrinha de chocolate,
porque 200ml de água pesam mais do que 30g de chocolate; jantar = 3 uvas;
ginastas com bulimia; acesso restrito à família; atletas treinando na segunda até
o peso voltar ao de sábado e enquanto não voltar não podia ir embora; ginasta
do norte do país sendo ridicularizada na frente de todos; bullying; treinadores com depressão e mais algumas coisas que não convém
comentar. Quem concorda com isso é desumano, não ama o próximo e não sabe se
colocar no lugar do outro que viveu isso todos os dias de domingo a domingo.
E dessa vez o masculino chegou no ápice do caminho começado lá
em 2002. Conseguiram a classificação olímpica e finalizaram os Jogos do Rio 2016
com 3 medalhas. Optaram por sair fora do esquema, trabalharam, tentaram
encontrar o caminho e conseguiram. Sérgio Sasaki, nosso melhor all arounder de
todos os tempos, parou com a ginástica e, sinceramente, não fez diferença. A
ginástica masculina continuou classificando a equipe, conquistando finais mundiais,
medalhas e revelando novos talentos normalmente. Esse ano, a ginástica que era boa
só de solo e ficou boa de argolas, agora também é boa de barra fixa! É de se
admirar.
em 2002. Conseguiram a classificação olímpica e finalizaram os Jogos do Rio 2016
com 3 medalhas. Optaram por sair fora do esquema, trabalharam, tentaram
encontrar o caminho e conseguiram. Sérgio Sasaki, nosso melhor all arounder de
todos os tempos, parou com a ginástica e, sinceramente, não fez diferença. A
ginástica masculina continuou classificando a equipe, conquistando finais mundiais,
medalhas e revelando novos talentos normalmente. Esse ano, a ginástica que era boa
só de solo e ficou boa de argolas, agora também é boa de barra fixa! É de se
admirar.
O ciclo olímpico atual, com uma gestão nova e revitalizada,
foi o primeiro ciclo em que algo diferente foi feito. Fico triste com o que
aconteceu, especialmente pelas meninas que nunca foram aos Jogos Olímpicos, mas
era claro que a classificação olímpica poderia não acontecer. Mais um trabalho foi o começado sem renovação, mas com a coragem de peitar o desconhecido. Nesse momento o feminino está exatamente
como o masculino estava em 2002: recebendo duras críticas e sendo os patinhos feios
da ginástica nacional. As críticas estão vindo especialmente das mesmas pessoas
e são as que querem voltar ao comando.
foi o primeiro ciclo em que algo diferente foi feito. Fico triste com o que
aconteceu, especialmente pelas meninas que nunca foram aos Jogos Olímpicos, mas
era claro que a classificação olímpica poderia não acontecer. Mais um trabalho foi o começado sem renovação, mas com a coragem de peitar o desconhecido. Nesse momento o feminino está exatamente
como o masculino estava em 2002: recebendo duras críticas e sendo os patinhos feios
da ginástica nacional. As críticas estão vindo especialmente das mesmas pessoas
e são as que querem voltar ao comando.
Se essa volta acontecer, podemos desistir da integralização da nossa ginástica. Esse processo é doloroso e demorou mais de 10
anos de maturação para a ginástica masculina. Entretanto, está provado em quantidade de medalhas e títulos mundiais e olímpicos que é um caminho que realmente
dá resultados. Estamos apenas nos primeiros passos da construção do novo caminho
da ginástica feminina. É preciso aguentar as críticas e ter paciência, além de esclarecer
que a nova gestão sofre o legado deixado pela antiga gestão. É bom lembrar que as duas últimas classificações olímpicas foram bem sofridas e não trouxeram resultados.
anos de maturação para a ginástica masculina. Entretanto, está provado em quantidade de medalhas e títulos mundiais e olímpicos que é um caminho que realmente
dá resultados. Estamos apenas nos primeiros passos da construção do novo caminho
da ginástica feminina. É preciso aguentar as críticas e ter paciência, além de esclarecer
que a nova gestão sofre o legado deixado pela antiga gestão. É bom lembrar que as duas últimas classificações olímpicas foram bem sofridas e não trouxeram resultados.
Continua no próximo post.
Cedrick Willian
Foto: Thomas Schreyer