Análise do 1º dia de finais – Tóquio 2011

Solo

Coração na mão. Diego Hypólito abrindo o solo. E o medo dos juízes segurarem a nota dele? Bom, Diego não passou a melhor série da vida dele. Teve um erro grave na segunda passada que, com certeza, foi o que lhe tirou a medalha de ouro. Sinceramente, uma série cravada de Diego nessa final não daria outro lugar pra ele que não o primeiro, mesmo que todos os adversários acertassem também. Mas como eu já disse uma vez: numa final tudo pode acontecer, e nessa final ele não teve o melhor desempenho de todos. Talvez porque o solo “joga” um pouco mais e ficou difícil de cravar as passadas…Vamos supor que o erro que Diego teve no solo despontuou sua série em 0.2. Eu acredito que não foi só isso. Penso em algo em torno de 0.3 ou 0.5, mas façam as contas e vejam que 0.2 já colocaria Diego em primeiro nessa final. Não deu: 15.466 pra ele. Aí o coração ficou apertado até o final das apresentações…Como na final do individual geral as notas de solo foram todas mais baixas, quis acreditar que na final de solo seria assim também…Não deu outra!

Jacob Dalton: 15.133.
Steven Legendre: 15.400
Flavius Koczi: 15.333.
Sepulveda: 15.333.

Passam cinco competidores e Diego ainda está em primeiro. Aí vem Uchimura…com uma série cravadíssima! Nota de 15.433. Diego continua em primeiro. Como assim??? Depois dessa série de Uchimura??? Os japoneses pediram a revisão da nota e realmente havia algo errado: foi acrescentado 0.2 na nota de dificuldade e ele acabou ficando com 15.633.

Zou Kai: 15.500. Que me desculpem os fãs, mas Zou Kai não é o ginasta mais limpo de se ver. Aquele tanto de pernas dobradas me incomoda muito. Mas fazer o quê? Abaixar a cabeça e acreditar no bronze…

Shatilov: série MUITO boa. Merece um lugar no pódio. 15.433. Mais uma vez a dificuldade de Diego salva a medalha dele e acaba tendo um justo empate no terceiro lugar. Diego está em Londres 2012.Resultados.

Salto feminino

Outra vez a ordem de apresentação me assustou. Jade se apresentou em segundo lugar. Não tive a expectativa de um salto de valor de dificuldade mais alto porque momentos antes da competição fui informado de que Jade competiria com os mesmo saltos da classificatória, só que com uma execução melhor. Não deu outra: primeiro salto muito bem executado e segundo salto muito bom também, mas aí…uma FATALIDADE aconteceu. É isso mesmo gente. O que aconteceu foi uma fatalidade. Vocês se lembram da ginasta ucraniana Viktoria Karpenko na final do AA de Sidney em 2000 (confira aqui)? Pra mim é o mesmo exemplo do que aconteceu com Jade…

Contas:

Jade deu quatro passos pra trás no segundo salto. Considerando que ela perdeu 0.1 em cada passo que deu, Jade teria tido um valor total de 14.666, que somado com a nota 14.866, do primeiro salto, daria uma média de 14.766, que colocaria ela na frente de Oksana Chusovitina. Me surpreendi quando fiz esses cálculos porque sempre que pensei nas possibilidades de Jade ganhar uma medalha nessa final, eu pensei na possibilidade da medalha ser de bronze, e não de prata! A execução dela foi realmente muito boa, mas infelizmente o que aconteceu deixou Jade de fora do pódio e, consequentemente, de fora da classificação direta para os Jogos Olímpicos.

Quatro coisas interessantes nessa final: primeira: a ginasta da República Dominicana não morreu! Graças a Deus! Vocês podem até achar que seja exagero da minha parte, mas eu fiquei com muito medo que isso acontecesse. Aquele salto estava perigosíssimo e eu, enquanto treinador, jamais deixaria que uma atleta fizesse aquilo; entretanto, entendo que essa era a única chance da ginasta conseguir uma possível classificação para os Jogos Olímpicos. Segunda: a execução da ginasta vietnamita é muito boa! Principalmente no yurchenko com dupla pirueta. Queria muito que a Jade tivesse ficado com o bronze, mas essa ginasta mereceu a medalha e classificação. Ela realiza dois saltos bem difíceis por ser de um país sem grandes tradições no esporte e essa medalha pode ser um fator extremamente positivo para a popularização do esporte por lá. Fico feliz por ela e por essa conquista inédita. Terceira: Maroney não me emocionou. Ela saltou espetacularmente bem, mas não me passou emoção nenhuma. Me pareceu uma patricinha que estava louca pra competição acabar pra poder entrar na internet e postar as fotos no Facebook. Quarta: pela primeira vez na minha vida torci contra a Chusovitina. Sou fã dela e admiro muito o fato dela ainda ser ginasta, ajudar a equipe alemã e conquistar medalhas. Me justifico: Oksana já estava classificada para os Jogos quando competiu no salto e um erro dela colocaria Jade nas Olimpíadas, coisa que, querendo ou não, ainda não temos certeza que vá acontecer…Resultados.

Cavalo com alças

Quedas, quedas e mais quedas! Nunca vi uma final de cavalo com alças com tantos erros. Ainda mais em um Mundial, onde estão os melhores ginastas do mundo! Favoritos foram caindo um a um, e acabou ganhando quem acertou. Foi como aquele joguinho infantil “Quem errar, sai!”, se lembram? rsrs. Confesso que fiquei desanimado com essa final, que foi salva graças a série belíssima de Krisztian Berki e a inesperada prata do francês Cyril Tommasone, que fez o seu trabalho e acabou sendo beneficiado com os erros dos favoritos.Resultados.

Paralela feminina

Komova conquistou o ouro com uma série calma, serena, confiante! E olha que nem usou todas as suas dificuldades…Nabieva ficou com a prata em uma apresentação que eu julgo ser a última dentro da equipe principal russa. Pelas regras ela tem vaga nos Jogos, mas a equipe russa já estava classificada, então não sei como definirão isso. Digo isso porque a equipe olímpica será composta por apenas 6 ginastas: 5 na equipe e um reserva. Penso que a equipe russa levará Komova, Mustafina, Grishina, Sidorova e mais uma! Isso se nenhuma se lesionar, obviamente. Mas quem será a 5ª ginasta? Dementyeva? Inshina? Afanasyeva? Belokobylskaya? Nabieva???

Minha decepção ficou por conta de Dufournet. Se ela tivesse acertado a série teria abrilhantado essa final…Resultados.

Argolas

Arthur Zanetti é o terceiro a se apresentar. Mais uma vez o coração na mão…

Zanetti teve a série mais limpa da competição. Argolas sem balanço, posições muito bem marcadas, cristos “zerados”…Deu orgulho de ver. A emoção tomou conta de mim, e por um momento eu pensei que essa apresentação era muito mais do que um feito inédito. Essa apresentação traduzia toda a evolução da ginástica masculina do nosso país. Traduzia o resultado de um esforço, de uma dedicação, de uma garra e uma vontade de estar ali, de fazer parte dos melhores, de conseguir disputar os Jogos Olímpicos. Essa medalha foi além do “nunca conquistada”. Ela vai ser lembrada em janeiro, quando a seleção masculina conquistará (eu acredito!) a vaga para a equipe completa em Londres 2012.

Zanetti perdeu apenas para o chinês Chen Yibing. Mas como eu gosto de contas, vamos lá:

Zanetti: 6.5 (D) + 9.1 (E) = 15.600
Yibing: 6.8 (D) + 9.0 (E) = 15.800

É…se Zanetti tivesse só um pouquinho mais de dificuldade ele poderia ser ouro. Quem sabe ele, juntamente com Marcos Goto, não trabalhe nesses dois décimos pros Jogos Olímpicos, né? Uma medalha olímpica para o Brasil nunca esteve tão próxima. Resultados.