Na última
semana, o corte de Jade Barbosa da equipe olímpica de ginástica artística tomou
conta dos noticiários. As manchetes reportavam das maneiras mais variadas os
motivos de tal decisão: cláusulas contratuais, má atitude da atleta que não compareceu quando convocada, o não cumprimento da agenda de competições e
treinamentos impostos pela CBG como parte de um processo seletivo e assim por
diante, uma série de questões aparentemente sem solução surgiram e culminaram na
exclusão de Jade da equipe olímpica do Brasil há um mês do início das
competições em Londres.
Jade
Barbosa não teve a chance de brilhar nas Olímpiadas de Pequim por conta de uma
grave lesão em seu punho direito que à época ainda não havia sido
diagnosticada. Acredito que tal qual Alicia Sacramone, que buscava redenção por
sua performance aquém na final por equipes que deixou o EUA “apenas” com a prata,
Jade buscava exorcizar o fantasma de sua própria performance em Pequim. A
espera de uma real oportunidade olímpica chegou ao fim de maneira controversa e
triste. As notas de Jade no salto e sua classificação para uma final individual
do aparelho farão falta para a equipe e para o esporte. Contudo, o título deste
artigo fala da maior perda da ginástica brasileira. Apesar de me solidarizar
com a Jade como atleta, seu corte não foi a maior perda que tivemos, mas sim a
reação de alguns ditos “fãs” brasileiros para com a ginástica de seu país.
Com ou sem
Jade, a equipe brasileira irá representar o Brasil no maior evento esportivo do
mundo. Cinco atletas que treinaram, suaram, lesionaram-se e continuaram a
treinar assim mesmo, dedicaram-se durante muito mais do que os anos entre uma Olimpíada
e outra, estamos falando da dedicação de uma vida inteira. Não pense nem por um
minuto que essas meninas são preguiçosas porque não conseguem fazer um
Patterson de saída na trave ou que são incapazes porque não conseguem fazer um
yurchenko com dupla no salto. Elas treinam, treinam e treinam enquanto você,
dito “fã”, está com seus amigos no shopping numa quarta-feira à tarde ou mesmo na
frente do computador criticando os vídeos das séries delas e escrevendo no
facebook mensagens pejorativas.
Digo e enfatizo:
nossas atletas estão dando o seu melhor. Limitações todos temos, esportistas
não estão fora desta regra. Além disso, as expectativas delas e a cobrança
direta que existe em cima delas é muito maior e mais importante que a sua, dito
“fã”. Dizer que as atletas irão apenas passear em Londres é um grande desrespeito
ao trabalho que se construiu e ainda se constrói. Você acha que não foi
fundamental para a ginástica brasileira ter Luísa Parente nas Olimpíadas de Seoul em 1988? Mesmo
sem chances de medalha, Luísa esteve lá, representou o país e mostrou a
ginástica do nosso país em verde e amarelo. Ver uma
atleta chegar num palco olímpico e representar bem o país é motivo grande de orgulho
e um grande passo na direção certa que infelizmente os “fãs” não entendem
porque estão muito preocupados apenas com quem vai ganhar ouro, prata ou bronze ou porque
só as grandes potências tem “ginástica de verdade”.
Como os
ditos “fãs” podem desejar mal a sua própria seleção? Se os resultados não estão
satisfatórios, não seria esse mais um motivo para apoiar e torcer pelo Brasil? Só
queremos ser Brasil quando somos campeões mundiais? A sua torcida contra não
vai mudar a situação, mas pode piorá-la já que a mídia é suscetível ao público,
e se o público diz que não quer mais saber de ginástica, adeus copas do mundo
na SporTV, meeting internacional e patrocínio.
Podemos ficar
em último lugar em Londres como muitos clamam e até desejam, mas quero ver
Daiane dos Santos voando no solo em sua última Olimpíada, Daniele Hypólito competindo
AA aos 27 anos e detonando na trave, Laís Souza em seu surpreendente retorno, Adrian
Gomes e Bruna Leal competindo bem em sua primeira participação olímpica, quero torcer
por uma competição limpa, sem quedas.
Ser fã de ginástica não é torcer para que uma atleta caia ou se machuque, mas sim torcer para que todas executem o seu melhor e nos dêem o espetáculo que aguardamos a cada 4 anos. Esta mentalidade enquanto fã também faz parte da evolução do esporte no país, e acredito que seja mais significativa do que se pensa. Somos nós fãs que ditamos o olhar do público sobre o esporte, devemos ter cuidado com o tipo de impressão que passamos afinal a ginástica brasileira continua após Londres, e você continuará apoiando o Brasil? Ou vai esperar Rebeca Andrade ganhar uma medalha em um mundial para voltar a ser fã?
Antes de
exigir que a ginástica evolua no Brasil, é preciso que alguns “fãs” evoluam
primeiro a ponto de conseguirem apoiar e valorizar seus atletas mesmo sem uma medalha de ouro no peito. O apoio ao esporte e
aos atletas a meu ver também vale ouro.