Mais uma chance para He Kexin
11 de julho de 2012Você sabia…
13 de julho de 2012Post do leitor, por Fabiano Araújo. Excelente texto.
Em 1991 desmoronava a
União Soviética, um regime repressor que por quase 70 anos subjugou os povos do
leste europeu e Eurásia. Entre suas mais diversas facetas, a URSS
apresentava-se ao mundo como uma potência esportiva/olímpica, que sempre fazia
frente aos países “ocidentais”. Esta vanguarda se expressou na então “ginástica
olímpica”, onde as ginásticas soviéticas, juntamente com as romenas, dominaram
a cena das competições internacionais, muitas vezes causando frisson com toda
sua graciosidade aliada a movimentos inovadores que impressionavam o público.
Sem dúvida as ginastas deste país, que por muitas décadas monopolizaram os
pódios internacionais, ajudaram a moldar a ginástica atual, e talvez essa seja
uma das mais preciosas heranças que aquele regime deixou: um esporte que hoje é
adorado no mundo inteiro, recrutando milhares de admiradores a cada ano!
foi a única herança que a URSS deixou acerca da ginástica, que agora não é mais
olímpica e sim artística! A Rússia
herdou os principais centros de treinamento, treinadores e profissionais
especializados, e toda uma estrutura administrativa que dá suporte ao esporte.
Além disso, por ser a mais rica das ex-repúblicas soviéticas, a Rússia é quem
investe pesado na manutenção e crescimento do esporte. Não podemos, claro,
deixar de considerar que algumas ex-repúblicas também presentearam o mundo com
ginastas incríveis como Lilia Podkopayeva e Viktoria Karpenko (Ucrânia), Oksana Chusovitina (Uzbequistão), entre
outras. Porém é inegável que a Rússia foi a única que manteve o alto nível nas
competições e garantiu sua posição de destaque na ginástica mundial no
pós-guerra fria, com expoentes como Svetlana Khorkina, Elena Zamolodchikova,
Elena Produnova e Ekaterina Lobazniuk.
maior democratização da ginástica no âmbito mundial, que caracterizou os anos
90 e 2000, a Rússia agora divide espaço, além de países tradicionalmente rivais
como Romênia e China, com uma nova potência da ginástica, os EUA. Vez por
outra, países sem tradição nesse esporte entram no páreo, como Austrália,
Espanha e Japão, mas não conseguem se manter em destaque por mais que dois
ciclos olímpicos, até que vêm outros países também sem muita tradição ocupar
seus lugares, como Grã-Bretanha, Canadá e Brasil. E assim se configura o
panorama internacional da ginástica nas últimas duas décadas: quatro potências
ocupam, invariavelmente, as primeiras posições nas finais por equipes (
Romênia, Rússia, China e Estados Unidos) enquanto outros países brigam pelas 4
últimas posições (Japão, Alemanha, França, Itália, Brasil, Grã-Bretanha,
Austrália, Espanha, Ucrânia, Canadá, Holanda etc.). Neste cenário a Rússia veio
encontrando dificuldades em se manter na liderança absoluta do esporte,
assumindo, em alguns momentos, posições de extrema inferioridade jamais vista,
sobretudo no que se refere aos Jogos Olímpicos de Beijing (2008), quando não
subiu nenhuma vez no pódio e no ciclo 2005-2008 como um todo, onde teve sua
presença ofuscada pelo brilho das americanas e chinesas.
junto com ele começa um novo ciclo, novo código de pontuação, novas regras da
FIG e também uma nova esperança de recuperação para a ginástica russa. As
coisas pareciam melhorar para elas, pois era sabido que juvenis muito
talentosas estavam arrebentando em competições da categoria anos antes e uma
big renovação estava para acontecer cedo ou tarde. Além disso, o novo código
presava por apresentações artísticas mais requintadas e trabalhadas, requisitos
o qual as russas sabem usar muito bem, obrigado! No Campeonato Europeu de 2009
as “Ksenias” (Semenova e Afanasyeva) brilharam, dando sinal da recuperação
russa: foram ouro e prata no AA, respectivamente, além de Semenova garantir a
prata na final das barras e o bronze no solo. Um pouco antes, mas ainda em
2009, na American Cup, Kristina Goryunova (*-*) mostrava ser um dos pesos
pesados desse ciclo, esbanjando seu ballet e suas acrobacias potentes.
Goryunova não vingou (por dopping) e lá se foi uma revelação russa. No Mundial
desse ano, em Londres, apesar de levar duas de suas promessas (Anna Mizdrikova
e Ekaterina Kurbatova), a Rússia não terminou bem o AA, tendo como melhor
posição o sexto lugar com Kurbatova. Porém, a grande esperança de medalha
residia em Myzdrikova no solo (classificando-se em primeiro para a final), onde
ela plotava a incomum tripla pirueta+mortal grupado, além de ter se
classificado em terceiro no salto sobre a mesa, acompanhada de sua companheira
Kurbatova, ambas executando DTY.
Myzdrikova do pódio, fato que se repetiu no salto. Kurbatova também não
conseguiu se impor no salto, deixando a Rússia sem medalhas femininas nesse
Mundial e colocando em cheque sua volta ao top 3 da ginástica mundial.
prova de fogo para a equipe russa, tendo em vista que nesse ano começariam as
principais competições por equipes do ciclo (tanto no Europeu como no Mundial),
além de outras grandes revelações passarem para a categoria adulta. No
Campeonato Europeu, em Birmingham, a equipe russa logrou o primeiro lugar,
seguindo-se de um ouro de Kurbatova no salto, duas pratas individuais da
estreante Aliya Mustafina (barras, trave) e uma prata de Myzdrikova no solo.
Outra estreante, Tatiana Nabieva, fechou o quadro de medalhas da Rússia com um
bronze no salto. Esse campeonato, de fato, colocava a Rússia novamente em
posição de destaque. Além de ser a primeira vitória por equipes desde o Europeu
de 2002, a Rússia apresentava duas estreantes com altíssimo nível: Mustafina e
Nabieva. Durante o ano, mais uma
importante junior iniciava suas competições na categoria adulta e encantava com
sua potência e expressão artística únicas: Anna Dementyeva. As Ksenia’s se
mostravam tecnicamente bem e as novatas impressionavam cada vez mais nas
competições pré-Mundial, incluindo elementos cada vez mais difíceis em suas
séries. Em Outubro dá-se o tão aguardado Mundial de Roterdã: alguns apostavam
na hegemonia dos Estados Unidos, e muitos acreditavam na volta por cima da
equipe russa. Na classificatória, a Rússia levou a melhor por equipes, e
conseguiu classificar em absolutamente todos os aparelhos duas ginastas, além
de Mustafina garantir o primeiro lugar na classificação do AA. Já nas
classificatórias estava claro para todos que esse era o retorno da Rússia e
agora era ela a equipe a ser batida, e não mais os EUA! O dia 20 de outubro de
2010 marcou a volta triunfal da Rússia, consagrando-se campeã mundial por
equipes pela primeira vez na história, desde a URSS, numa das competições mais
emocionantes deste ciclo.
competição individual geral, a russa Aliya Mustafina sagrava-se mais uma vez
campeã mundial, ao mesmo tempo em que ocupava a posição de estrela deste
esporte, sendo apontada como a sucessora de Svetlana Khorkina! Nas finais por
aparelho, mais medalhas: prata de Mustafina em três finais (salto, barras
assimétricas e solo). Sem dúvida, Aliya Mustafina foi o grande nome desse
Campeonato Mundial. Maior esperança da Rússia nos próximos Jogos Olímpicos, ela
não só se tornou a líder da equipe como também um ícone nesse esporte, esporte
esse que carecia de uma figura tão influente e carismática desde Shawn Johnson
e Nastia Liukin, em 2008. Seu estilo clássico e a altivez e determinação em seu
olhar, refletidos na confiança e leveza de seus movimentos, são irresistíveis e
admiráveis!
pré-olímpico estava cheio de surpresas para a ginástica artística mundial. A
primeira delas veio no American Cup, onde Aliya Mustafina duelou com a anfitriã
Jordyn Wieber e levou a pior: ambas tiverem uma queda que prejudicou o
somatório final (Jordyn nas Barras e Aliya no solo). Porém, Jordyn foi superior
e ficou com o ouro.
com várias revelações para a categoria adulta da Rússia: Viktoria Komova, Yulia
Belokobylskaya e Yulia Inshina. O Campeonato Europeu de 2011, realizado em
Berlim, estava fadado a ser mais uma grande fonte de medalhas para a Rússia,
não fosse o inesperado acidente ocorrido com Aliya Mustafina logo no primeiro
aparelho da competição AA. Ao realizar o difícil e arriscado Amanar, Mustafina
sofre uma severa lesão que não só a retira da competição, como ameaça sua
participação no Mundial de Tóquio, meses à frente.
notícias da seriedade da lesão de Aliya preocupam seus fãs, agora não mais
receosos sobre sua participação em Tóquio, mas sim sobre o tempo de recuperação
e preparação para as Olimpíadas. A ausência de Mustafina na equipe que
disputaria o Mundial pré-Olímpico colocou em cheque a possibilidade de um
bicampeonato consecutivo para a equipe russa, apesar dessa contar com a mais
nova e aguardada integrante da equipe, Viktoria Komova. Komova certamente era
considerada a mais talentosa ginasta juvenil dos últimos anos. A dificuldade de
suas séries e a precisão com que executa as rotinas são os seus pontos fortes.
estar no auge de sua forma em 2011, era esperado que sua presença ajudasse a
colocar a equipe russa no top 3, além de ser uma grande “contender” para o AA e
as finais por aparelho. A forte equipe americana classifica-se em primeiro
lugar, deixando a Rússia comendo poeira mais de três pontos atrás, fato que se
repete no dia da final. Já na classificação do individual geral, Komova brilha
no primeiro lugar, seguida de perto pela americana Wieber. Traída pelo próprio
emocional, Viktoria Komova deixa o ouro escapar para Jordyn Wieber, que se
consagra o nome da competição.
estava por vir, e no dia das finais por aparelhos a Rússia mostrou o porquê das
barras assimétricas serem seu melhor aparelho: dobradinha de Komova (ouro) e
Nabieva (prata), que graciosamente apresentaram suas séries com muitas dificuldades
e poucos erros. E, para coroar a noite, Ksenia Afanasyeva se torna campeã
mundial no solo, com muito estilo e glamour! E mais uma vez Rússia deu o seu
recado: está de volta uma das mais prestigiadas nações na Ginástica Artística.
olímpico. Ano em que as séries devem estar mais difíceis do que nunca; as
equipes mais preparadas e as ginastas mais impecáveis do que jamais estiveram
em três anos. A corrida contra o tempo é dada. Entretanto, no Campeonato
Europeu desse ano, a Rússia se mostrou mais frágil do que deveria estar. Além
da muito aguardada volta de Aliya Mustafina, esperava-se um grande duelo contra
a Romênia, que também vinha com uma equipe renovada. Já nas classificatórias as
russas desandaram, ficando cinco pontos atrás das romenas. A equipe russa
estava formada por nomes fortes, como Mustafina, Komova e Anastasia Grishina.
No entanto, isso não foi suficiente para garantir o ouro na final por equipes e
a Romênia ficou na frente por menos de um ponto. Apesar de já estar pontuando
mais de 15 pontos no salto e nas barras, Aliya Mustafina ainda não atingiu sua
antiga forma no solo e na trave.
competiu em 2 aparelhos (barras e trave) sendo campeã nas barras, espera voltar
a executar o Amanar no salto e seu antigo solo a tempo das olimpíadas para que
possa, mais uma vez, duelar contra Jordyn Wieber no individual geral. Sem
dúvidas, a Rússia não estava bem neste Campeonato Europeu. Suas principais
promessas não estavam na forma em que todos esperavam, além de peças-chave como
Dementyeva e Afanasyeva estarem ausentes. Para as Olimpíadas, a equipe deve ser
formada por cinco ginastas permanentes e uma reserva. Grishina, Komova,
Mustafina, Afanasyeva e Paseka já estão garantidas. Nabieva e Inshina serão as
reservas. Será que a Rússia, de fato, conseguirá se erguer e transpor todas as
adversidades ou as equipes chinesa, americana e romena estarão mais fortes em
Londres? Deixe seu comentário!