O que a ginástica reserva para 2017? – Brasil
24 de março de 2017Seleção feminina conquista duas pratas em Jesolo
1 de abril de 2017Desde o fim dos Jogos Olímpicos do Rio, a ginástica feminina do Brasil tem passado por momentos complicados. Sim, nas classificatórias olímpicas a seleção feminina fez uma excelente competição, mas nas finais terminaram sem a tão sonhada medalha olímpica como também sem superar os melhores resultados do Brasil em uma edição dos Jogos. Desde então, queda nos investimentos e a partida de bons treinadores deixaram o futuro incerto.
Finalizado os Jogos – e depois de um investimento nunca visto na história da ginástica do país -, fomos obrigados a ver Alexander Alexandrov se despedir do Brasil. Até aí tudo bem, pensando que ficaríamos com os treinadores que mais tiveram acesso aos ensinamentos dele (restrito apenas a alguns), mas o que aconteceu foi que esses treinadores também foram embora, deixando a chama da esperança ainda menor.
Idealizando sobre a nova direção, é necessário falar sobre os treinadores que deixaram o país – principalmente Alexandre Cuia, Keli Kitaura, Ricardo Pereira -, assunto amplamente questionado e que divide ideias entre muitos do meio da ginástica. Alguns acham um absurdo o que aconteceu; outros, nem tanto. Fato é que, se foram embora, é porque as coisas aqui não iam bem. Se a oferta fosse boa, se o futuro parecesse próspero, por que desejariam abandonar todo o trabalho feito? O questionamento é maior e aponta um pouco mais de desespero na situação: se Alexandre Cuia, ex-treinador da Flávia Saraiva, finalista olímpica de trave, preferiu deixá-la e procurar novos rumos fora do país, qual a perspectiva dos treinadores que estão começando a carreira agora? Já pensou que existem vários estudantes de Educação Física, ex-atletas ou não, que sonham com uma carreira profissional como técnico de ginástica e, logo após os Jogo Olímpicos, enxergam uma situação dessas?
Não dá para julgar o que aconteceu. Ninguém além dos treinadores, atletas e comissão técnica, estava realmente a par de toda a situação que envolveu a ginástica nos últimos anos para dar uma opinião concreta sobre isso. Mas, analisando com a razão, quem continua no mesmo emprego quando está infeliz? Quem nesse mundo recusa uma oferta de emprego quando ela é muito melhor? Já parou para pensar que a Keli treinou a Rebeca Andrade desde os 6 anos de idade e quando Rebeca chegou nos Jogos Olímpicos, o momento mais sonhado pelas duas, a treinadora não teve a chance de estar com ela na arena? É triste ver todos esses bons treinadores que aprenderam tanto com Alexandrov indo embora, mas não é algo incompreensível. Se há um culpado por essa situação, esse culpado se chama “má administração”. Foi ela a responsável por não oferecer condições atrativas, sejam de trabalho, financeiras ou de infra-estrutura, para que esses treinadores continuassem por aqui.
A ginástica feminina ainda vive da glória de Luisa Parente (que até hoje não teve seus ouros pan-americanos superados), Daniele Hypólito, Daiane dos Santos e Jade Barbosa. Entra investimento, sai investimento, e só conseguimos mais do mesmo. Sempre mais do mesmo. Um trabalho a longo prazo nunca é priorizado e toda vez que um ciclo olímpico termina bate um desespero e os questionamentos começam: quem vai continuar? Quem não vai? Onde está a nova safra de atletas e treinadores?
Nesse sentido, a administração todas as vezes deixou a desejar.. Com técnica extremamente apurada (direcionada por Ostapenko e Alexandrov) e método de treinamento antigo e defasado, a ginástica feminina do Brasil a cada ciclo sobrevive com ginastas cansadas, lesionadas, com treinos excessivos e pouquíssimo descanso. Agora, aparentemente, as coisas parecem caminhar para um sentido de mudança. É impossível definir, nesse momento, se a mudança será boa ou ruim, mas continuar do jeito que estava é insistir no erro por mais quatro anos.
Enquanto a ginástica feminina ainda aguarda sua primeira medalha olímpica (sem esquecer de valorizar as conquistas da Flávia nos Jogos Olímpicos da Juventude), a ginástica masculina já possui quatro. É um resultado discrepante se comparado à ginástica feminina, que já consegue competir com equipe completa em todos os Mundiais e Jogos Olímpicos desde 2001. A seleção masculina só conseguiu competir com equipe completa nos Jogos em 2016! Nada mais inteligente, nesse momento de crise, do que começar a analisar o sucesso da ginástica masculina e testar novos caminhos. Não dá pra engolir mais os métodos arcaicos e de sucesso a curtíssimo prazo que direciona a ginástica feminina desde sempre.
Dessa forma, Marcos Goto assume a direção da ginástica masculina e da ginástica feminina. Pode ser que daqui quatro anos todos percebam que, talvez, o melhor seria que tudo continuasse como estava, que aquilo mesmo era o melhor que o Brasil poderia ser. Entretanto, com tantos talentos promissores que já vimos o nosso país ter capacidade de produzir e nunca “chegar lá”, testar novas formas e possibilidades é o mínimo que deveria ser feito. Essa é a chance que a ginástica feminina tem de se reinventar, algo que deu muito certo, por exemplo, no Japão.
Nesse momento, uma ponta de esperança no futuro aparece. Não de um futuro a curto prazo – com mais um treinador de altíssimo nível encabeçando a seleção e a promessa de medalhas em Tóquio -, e sim de um futuro que coloque o Brasil no topo para que nunca mais saia, mesmo que o caminho seja mais difícil e demorado. Esse parece ser o destino da seleção masculina e o profundo desejo dos que também admiram a seleção feminina.
Boa sorte Marcos Goto. Temos fé e esperança na mudança, assim como num trabalho bem direcionado.
Post de Cedrick Willian
Foto: Ivan Ferreira / Melogym / Gym Blog Brazil